Projeto com o Fida fomentará ações em 3 regiões da América Latina
- Por AP1MC
Em uma iniciativa inédita, os povos tradicionais e comunidades agricultoras, que já estão conectados pelas suas semelhantes pelejas para sobreviver em regiões cada vez mais áridas, estarão unidos de uma forma mais concreta por dois anos. O responsável por isso é o Projeto DAKI, sigla em inglês para Iniciativa
de Conhecimento sobre Adaptação de Terras Secas. O projeto DAKI – Semiárido Vivo será desenvolvido no Chaco argentino, no Nordeste do Brasil, e na parte do Corredor Seco em El Salvador.
Ao longo de 8 meses, a iniciativa vai identificar práticas bem-sucedidas de Agricultura Resiliente ao Clima (CRA) e capacitar instrutores mestres e agricultores de referência com capacidades para acompanhar e orientar a transição de um sistema agrícola convencional a um sistema resiliente ao clima.
O projeto é financiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), uma agência de financiamento ligada à ONU e voltada para as populações rurais. No Brasil, a atuação do FIDA é concentrada no Nordeste rural, onde está metade dos estabelecimentos da agricultura familiar do país.
Em cada país envolvido no projeto, uma organização ancora a sua execução. No Brasil, a Associação Programa Um Milhão de Cisternas, responsável pelo gerenciamento físico e financeiro das ações da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Na Argentina, a Fundação para o Desenvolvimento da Justiça e Paz (Fundapaz) e, em El Salvador, a Fundação Nacional para o Desenvolvimento (Funde)
Essas instituições da sociedade civil apoiam populações rurais e, junto a elas, desenvolveram e testaram soluções para aumentar a resiliência das famílias agricultoras aos efeitos das mudanças climáticas. Apesar dos numerosos/as agricultores/as inovadores/as e da presença das instituições de apoio nestas três regiões secas da América Latina, as ações por eles desenvolvidas, se não tiver apoio e adesão governamental, ficam circunscritas a um raio limitado. Fazer com que as experiências se expandam mais e mais é uma intenção do projeto DAKI - Semiárido Vivo.
Na sua essência, o projeto DAKI - Semiárido Vivo se baseia praticamente em dois verbos: identificar e capacitar. Identificar experiências bem sucedidas, que ampliam ou promovem a resiliência ao clima junto às populações rurais, para sistematizá-las e registrá-las. E capacitar extensionistas agrícolas e agricultores de referência, a partir de cursos de agricultura resiliente ao clima, que tenham como parte do material didático as sistematizações das experiências identificadas na fase anterior. As pessoas capacitadas serão responsáveis por transmitir o conhecimento a outros técnicos e agricultores, apoiando assim a transição de sistemas agrícolas convencionais para sistemas agrícolas resilientes ao clima.
Agroflorestas - Nos cursos, as técnicas focam no gerenciamento integrado de nutrientes dos agroecossistemas, assim como no gerenciamento diversificado do plantio e na gestão das fontes de água disponíveis. A produção pelo sistema agroflorestal, que podem ser integrada à criação de animais, é a base sobre a qual o curso vai se desenvolver.
"Estudos mostram que os sistemas agroflorestais são mais resistentes à condições climáticas extremas do que as culturas anuais e monoculturas, pois possuem vários mecanismos para reduzir o impacto das secas, como retenção de umidade, redução de temperaturas extremas do ar e do solo, quebra de vento e redução de perda de água. O cultivo estratificado, diversificado e densificado aumenta a capacidade fotossintética e, portanto, o volume de biomassa por área cultivada, aumentando a circulação da água e promovendo a melhoria do microclima. A abordagem é combinar diferentes plantas em um sistema capaz de fotossíntese ao longo do ano e, assim, constantemente produzir biomassa e acumular água. Ao praticar o gerenciamento ativo, todo o sistema agroflorestal se regenera vigorosamente e, portanto, oferece mais resiliência durante períodos secos", aponta o documento de apresentação do projeto Semiárido Vivo.
O projeto vai beneficiar diretamente cerca de 2 mil pessoas, incluindo funcionários públicos, equipe de assistência técnica, agricultores familiares, estudantes e professores de escolas rurais, e indiretamente, através dos cursos que serão disponibilizados em dois idiomas (português e espanhol), aproximadamente 6 mil pessoas.
O custo total do projeto é de quase US$ 2 milhões. Deste total, o Fida financia 78% e as organizações executoras (no projeto tem a expressão destinatário) cobrem os 22% restantes como contrapartida.